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1997: CPI dos Precatórios descobre remessas volumosas de dinheiro ao exterior. Passa-se a investigar o banco estadual do Paraná, Banestado. Alvo inicial: operações junto ao Banco Araucária – ligado à família Bornhausen -, que teria uma agência em Ciudad del Este, Paraguai, especializada em operações de câmbio. O responsável por auditar as contas, João Augusto Novak, é encontrado morto num hotel de Londrina.

1998: o procurador da República Celso Tres descobre que uma casa de câmbio em Cascavel operava com laranjas. Cash Câmbios, dos irmãos Mauro e Celso Barater – este, deputado estadual no Paraná pelo PSDB. Tres pede quebra de sigilo das remessas da Cash entre 1992 e 1998. Acaba descobrindo um envio total de U$ 124 bilhões por meio de contas denominadas CC-5.

Entre os titulares investigados, emissoras afiliadas à Rede Globo, Editora Abril, SBT, José Serra, Ricardo Oliveira, banqueiros, empreiteiras, Correio Braziliense, Beto Richa, Henrique Meirelles, Luciano Hang.

Tres, então, envia as informações para as procuradorias estaduais respectivas às jurisdições dos suspeitos. Além da sonegação, havia indícios de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Outubro de 2000: em meio às investigações, o Banestado é vendido ao Itaú.

2001: Policiais federais vão ao Banestado de Nova York, um dos destinos das transferências. Descobrem que, de lá, o dinheiro seguia para paraísos fiscais. Suspeita-se de que parte da grana seja também produto do tráfico de drogas.

Maio de 2002: o delegado Júlio Castilho, que comandava o inquérito, é afastado do caso. Sua equipe havia identificado U$ 30 bilhões na agência Banestado NY, remetidos de Foz do Iguaçu. Ele denuncia uma “operação abafa”. Assume seu posto o delegado Antônio Carlos de Carvalho.

Castilho ainda voltaria às operações em 2003, já sob Lula, sendo novamente desligado em junho daquele ano pela direção da PF.

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Junho de 2002: troca também de juiz. Sérgio Moro assume a 2ª Vara Federal em Curitiba, responsável pelos processos. Mais tarde, a Vara se transformaria em 13ª.

Dezembro de 2002: Na última semana de governo, FHC sanciona a Lei 10.628, para manter o foro privilegiado de políticos e ministros que perdem o cargo.

Junho de 2003: Congresso instaura CPI do Banestado. Presidente: senador Antero Paes de Barros (PSDB); vice: deputado Rodrigo Maia (PFL).

Agosto de 2003: procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima e Vladimir Aras, da nova força-tarefa formada para o caso, viajam a NY para impedir, junto às autoridades norte-americanas, que membros da CPI tivessem acesso aos titulares das contas. A esposa de Carlos, Vera Lúcia dos Santos Lima, trabalhava no Departamento de Abertura de Contas da filial do Banestado em Foz do Iguaçu, origem das remessas, entre 1995 e 2001. Apesar disso, o procurador foi mantido nas investigações. Estava com o dossiê de Celso Tres desde 1998, mas só deu andamento ao caso em 2003, depois de instalada a CPI.

Diante da interferência dos procuradores brasileiros, os colegas norte-americanos, então, enviam os documentos à filial gringa do Itaú, agora dono do Banestado.

Novembro de 2003: doleiro Alberto Youssef, apontado como principal operador das remessas, é preso em Londrina, quando visitava túmulo da mãe. Com ele, é encontrado um cheque de R$ 150 mil, nominal ao deputado federal José Janene (PP-PR). Youssef já acumulava processos e prisões por lavagem de dinheiro envolvendo políticos.

Dezembro de 2004: José Mentor (PT-SP) apresenta relatório final da CPI pedindo indiciamento de 91 pessoas, entre elas o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, e o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta. Os nomes de peso apontados por Castilho e Tres nas investigações são esquecidos.

Mesmo resultado na outra ponta da investigação: a nova força-tarefa não indicia nenhum dos tubarões, limitando-se a doleiros e laranjas de terceiro e quarto escalão. Vencido, Celso Tres também foi transferido, lamentando o desfecho e avisando da necessidade de controle externo ao Judiciário.

Mesmo Youssef, o operador, acaba ganhando liberdade após fazer um acordo de colaboração com Sérgio Moro.

Numa PF com direção ligada ao governo de plantão, mas a serviço dos Estados Unidos, não ficou claro quem ordenou a troca de comando nas investigações. Segundo Carlos Alberto Costa, chefe do FBI no Brasil de 1999 a 2003, “os Estados Unidos compraram a Polícia Federal” e a imprensa, via doações em cash de CIA, DEA, NAS. Além do próprio Youssef, que também dava dinheiro à PF.

A entrevista de Costa à Carta Capital gerou questionamentos no Congresso, constrangimento entre policiais, mas não ganhou manchetes na imprensa comprada. Assunto encerrado. Àquela altura, ao brasileiro não mais importava a quem suas instituições serviam.

garisto

 

 

 

 

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  1. By Geopolítica da droga II | A Forca on 01 out 2020 at 5:59 pm

    […] que assumiu o Ministério da Justiça em 2019, Sérgio Moro reuniu os cabeças do PCC em um mesmo presídio. Ele já havia fechado acordo com Jeanine Añez […]

  2. By A Forca on 10 nov 2021 at 8:18 pm

    […] Brasil, o explosivo usado pelo Departamento de Estado americano foram Judiciário, imprensa e congressistas. Desde então, as vampiras tem abocanhado campos de petróleo, refinarias, usinas […]

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